“Era o primeiro dia de escola do Rafa e ele estava muito contente! Sabia
que ia conhecer meninos novos com quem brincar."
“No mundo do Rafa”
foi uma história desenvolvida no ano letivo de 2012/2013 no âmbito de uma
sensibilização ao pré-escolar, efetuada pela Terapeuta da Fala e Formadora de
Língua Gestual Portuguesa, que exerciam funções nesse nível de ensino. O
objetivo era sensibilizar os alunos e a comunidade educativa envolvente para
questões relacionadas com a surdez, através da história de um menino surdo, que
vinha pela primeira vez para a pré-escola e que encontrou algumas barreiras de
comunicação.
A mesma história foi analisada pelos alunos surdos mais
velhos do Agrupamento de Escolas do Bonfim, que frequentam a Terapia da Fala, e
foram discutidos vários temas sobre a surdez. Os alunos relataram alguns
acontecimentos da sua vida enquanto pessoas com surdez e emitiram opiniões
relativamente ao mundo que os rodeia, fornecendo sugestões em relação às
possíveis formas de facilitar a comunicação entre eles e os seus pares
ouvintes. Posteriormente redigiram um texto de opinião com a orientação da
Terapeuta da Fala.
Ficam aqui os seus pareceres.
O Rafa estava confuso e triste, porque ele não
percebia o que as pessoas ouvintes falavam com ele.
Quando eu era pequena, eu também ficava triste e
estava confusa, porque eu não conseguia comunicar com as pessoas ouvintes e não
percebia nada do que diziam! Eu não sabia o que se passava comigo! Mas depois a
minha mãe contou-me que sou surda. Por isso, já sei que sou surda há muito
tempo.
As pessoas ouvintes, que não sabem fazer gestos, fazem
mímica e também escrevem no papel ou no telemóvel para eu perceber.
Acho que consigo comunicar com eles melhor, por isso
está tudo bem.
Cátia Caetano, 9ºano
O Rafa sentia-se muito triste, porque não conseguia
comunicar com os ouvintes. Eu já me senti triste, às vezes, porque os ouvintes
gozam com os surdos. Eu acho que é porque alguns deles não gostam de surdos. É
estranho! Mas outros gostam. Na minha opinião, os ouvintes devem respeitar os
surdos.
Na minha escola há professores que ensinam LGP, outros
ensinam a escrever e a ler. Todos são importantes para aprender a comunicar com
os meus colegas.
No futuro, não sei como vai ser a minha comunicação.
Mas gostava de falar melhor e de fazer melhor LGP. Também gostava de comunicar
mais com os ouvintes.
Diana Rus 8ºF
Quando eu era pequenino estava sempre triste porque
não ouvia as coisas à minha volta, como a televisão e as pessoas.
Depois, fui ao médico a Lisboa e fiz exames aos
ouvidos. O médico disse à minha mãe que era melhor ser operado, para pôr um
implante coclear. Mas a minha mãe não queria. A seguir, fui ao médico em
Abrantes. Depois fui a uma consulta ao Entroncamento. A médica e a minha mãe
estiveram a falar sobre mim. De seguida fui fazer o molde da prótese e escolhi
a cor do aparelho, que foi verde. Mais tarde, a professora Sandra, que foi a
minha professora de Língua Gestual Portuguesa (LGP), deu-me o nome gestual de
“aparelho verde”.
Antes, andava na escola de Alter, mas de manhã ia para
a escola de Portalegre. Da parte da manhã aprendia L.G.P. e tinha aulas com
outra professora. Depois comecei a vir sempre para Portalegre, porque tinha
Professora de Apoio, Terapeuta da Fala e Professora de L.G.P.
Atualmente, consigo ouvir e
falar bem com as pessoas ouvintes, mas quando está muito barulho tenho
dificuldade em perceber o que estão a dizer. Também consigo comunicar bem com
os surdos. Contudo, às vezes, não sei alguns gestos.
No futuro, acho que vou falar e ouvir melhor. Também
vou perceber melhor as pessoas ouvintes e surdas.
Penso que mais ouvintes vão aprender L.G.P. e os
surdos vão comunicar melhor com os ouvintes. Assim, a comunicação de todos
seria mais fácil.
João Cordeiro, 8ºano
O Rafa sentia-se triste por não conseguir comunicar. Quando eu era
pequena, andava na pré-escola de Castelo de Vide, mas às vezes vinha a
Portalegre, porque havia Terapia da Fala. No primeiro ano de escolaridade fui
para a Praceta em Portalegre. Nesse ano comecei a aprender a escrever, a ler e
L.G.P. Como sou surda, tinha que aprender L.G.P. para comunicar, o que foi
importante.
Na minha escola tenho amigos ouvintes e surdos. Eu
acho que comunico bem com ambos. Todavia, alguns surdos não conseguem comunicar
muito bem com os ouvintes, porque não os conseguem ouvir ou têm dificuldade em
percebe-los.
No futuro, na minha opinião, os surdos vão conseguir
comunicar melhor, porque já tiveram Terapia da Fala, Apoio e aprenderam L.G.P.
na escola.
Alice Rabaça 7ºG
Quando eu era pequena era muito difícil falar e não
sabia L.G.P., por isso não percebia nada. Na altura em que eu andava só na
escola de Ponte de Sôr, não havia ajuda. Então comecei a ir, às vezes, para a
escola de Portalegre, porque havia professor de L.G.P. e Terapeuta da Fala.
No início, só conseguia comunicar com a família e com
os amigos surdos. A minha família foi para a escola aprender L.G.P., para
comunicar comigo. Eu acho que foi muito importante para a nossa relação.
Mais tarde, como eu aprendi a falar melhor, consegui
perceber e falar com os ouvintes. Ao mesmo tempo, continuei a aprender L.G.P.
para comunicar melhor com os surdos ou ouvintes, que sabiam L.G.P.
Agora, estou no 7ºano e consigo comunicar com
professores, auxiliares, com o Diretor Sequeira e com os alunos, quer sejam
surdos ou ouvintes.
No futuro, eu acho que não vai haver mais pessoas
ouvintes a saber L.G.P., porque não se interessam. Eu penso que isso é mau,
porque se as pessoas ouvintes tiverem um filho surdo, não sabem L.G.P. para lhe
ensinar, nem para comunicar com ele.
Márcia Pedroso 7ºG
Terapeuta da Fala:
Inês Dinis
http://adf.ly/hPFbD
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